VINTE E TRÊS DE AGOSTO
A coisa que o prazer solitário melhor explicita é a ausência do outro. Qualquer outro...
Amado ou não... Amante ou não...
Alguém que simplesmente fosse toque, pele, calor, suor, sangue, cheiro, lágrimas, secreções...
Alguém que fosse...
Alguém humano, não um simulacro.
Dizem que é mais livre quem menos precisa,
mas não precisar do outro no prazer é o quê?
Um ensaio? Um improviso? Um solo?...
Se isso fosse uma espécie de instrumento, talvez fizesse sentido.
Mas não é.
É genitália de gentalha: Coisa que
todo mundo tem e todo mundo tenta
esquecer que tem.
É sexo. É uma forma de carinho extrema que se deve reservar
a quem se ama ou se quer,
revelando, desnudo, a própria intimidade da pessoa.
Dizem que o ser humano é o único animal que não tem cio, isto é, período de reprodução específico estimulado por alguma programação bioquímica ou coisa que o valha.
Dizem que o ser humano se autoerotiza porque o sexo é algo antes fantasiado que físico e tudo que se imagina é melhor do que o que se vivencia.
Dizem que o ser humano projeta suas emoções e memórias nas emoções e memórias alheias, onde o prazer que se concede complementa e mesmo justifica o prazer que tem ele próprio.
Dizem... Ah, dizem tanta coisa!
Logo, amar-se não é amor;
calar-se não traz calor;
valer-se não tem valor.
Mesmo assim, o prazer solitário acontece...
...sem amor, sem calor e sem valor...
permite a perpetuação de actitudes,
que se pretendem, senão libertadoras, libertárias.
O paradoxo por excelência!
E, ainda assim, uma necessidade humana
tão essencial e quotidiana quanto
beber, comer, dormir...
Se tocar...
Se gozar...
Se possuir...
Sim, é isso. Ou não?
Betim - 2015
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.