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Tormentos

 
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Tormentos
(Memórias de Guerra)

Na noite errática da montanha
a tempestade dos sonhos ruge,
troam os gritos dos mutilados
espezinhados pela fúria da dor
e a raiva explode dilacerante.

Os andrajos e farrapos vomitam
sangue das feridas trespassadas
por raios de loucura apocalíptica
vertendo humores na terra negra,
peganhosa de sangue, lágrimas e lama.

E os fantasmas dançam aos ritmos
da metralha indiferente zunindo
nos espaços e nos tempos da morte
que se esgueira trôpega e ébria
pelos vales malditos da discórdia.

...

Meu corpo gelado na inércia do medo
sobressalta-se em espasmos de dor;
meus olhos rolam o terror feroz,
a minha boca seca-se e lamuria
sons incoerentes de puro drama
e balbucia a cobardia da fuga.

Frio, morte, trovões, relâmpagos...
O mar é um poço de monstruosidades,
sem fundo, tão negro como a noite,
que fustiga as fragas que choram
lágrimas de sal em minha face dorida.

Morro, gemendo de pânico patético,
na troça de bobos e de prostitutas,
noivos gerados pelas guerras vãs.
Minhas mãos desistem e pousam a pena
e as penas se me negam prostradas.

...

Voo no breu da noite, imortal de alma,
sem matéria que defina um corpo sequer.
e uma outra alma voa célere clamando
meu nome e me toca quente, me despertando
no beijo e no sussurro da manhã que vem:
"Acorda, meu amado! Em meus braços, Amor!"

...

Bom dia, Morte, minha noiva prometida!
E a tormenta se esvai ferida e vingativa...


Poet@ sem Alm@
João Loureiro


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Lisboa, 01/09/2015
 
Autor
Poeta.sem.Alma
 
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