Disse um dia minha alma que sofria,
e era somente a mim que se referia.
“ - Vais fingir que amas para aplacar a própria dor,
vais te iludir, talvez querendo luxurias, não amor”
E continuou como doce governanta,
dizendo palavras com propriedade tanta:
“- Não confundas e não te iludas!!
Se alguém te dá alguma atenção
não significa que te ama”
Apenas tem pena da tua dor,
esse teu sentimento às raias do ridículo,
que queres que o mundo saiba.
Acaso espalhando teu azedume e fel,
mitigaras a frustração que trazes no peito?
Acaso iludindo quem te estende a mão,
esquecerás as desventuras agora só tão tuas”
Arrematou num tom quase suave,
como se do arcano tivesse chave:
“- O que queres então?
Procurar messe de delícias luxuriosas
como bálsamo para teu sofrimento?
Entregar-te violentando o corpo,
sem reflexos no âmago da alma,
apenas anestesiar agruras
em detrimento de alguém ora sensível
que se encantou com teu sofrimento?”
“ -Há alguém que deseja teu sofrimento estancar,
não que de repente te tornes dela o par.”
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.