Poemas -> Desilusão : 

Sextina à Liberdade

 
Foge-me a mim agora a curta vida
Perdido num local que chamam escola,
Foge o tempo diante destes olhos
Sem tão pouco saber se vale a pena.
E passam dias, passam de rotina
De vil tristeza e fétida prisão.

Será que alguém ergueu esta prisão
Que tira à juventude o bom da vida,
Presa aos toques diários da rotina?
Que saudades da rua enquanto escola,
De escrever numa lousa e com pena,
De até ficar com lágrimas nos olhos.

Proibidos, já não choram os olhos;
Obrigados, entregam-se à prisão;
Burocratizados, ninguém tem pena.
Reino espartano, carrasco da vida,
Que não deixas amar o templo escola
Cego por não fugir desta rotina.

Aulas, aulas, sem furos, vai, rotina,
Não quero, já não quero, choram olhos.
Estou farto, não quero mais a escola.
Livrai as criancinhas da prisão
Ó vós que não tivestes uma vida,
E não sabeis agora o que é ter pena.

Erguei-vos todos vós que amais a pena,
Lutaremos assim contra a rotina,
E gritemos, poetas, viva a vida.
Que a escola seja vista de outros olhos,
Que se abram os portões, que se abra a prisão
E saudades todos tenham da escola.

Liberdade, ministra desta escola;
Erguida em Atenas, só, sem pena,
Com Sócrates e sem qualquer prisão.
Então aprender seria uma rotina
E o saber seria o riso dos olhos,
A vida uma escola a escola uma vida.


Acordarei do sonho e tenho pena
Que amanhã voltarei a esta rotina
Melancólica da escola e da vida.

 
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maduro
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/02/2008 18:56  Atualizado: 17/02/2008 18:56
 Re: Sextina à Liberdade
Amigo e colega Maduro. Realmente esta escola tem a lógica invertida.
De escola aberta ansiada, passou a lugar fechado de vida.
No meu dia a dia, luto por lhe realçar as virtudes, fazendo do cativeiro forçado dos meus alunos, coisa nunca antes prometida.
As pequenas coisas que a Escola ainda me dá, servem-me de panaceia para a pasmaceira generalizada que é este país.
Boa reflexão, Maduro, parabéns.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/02/2008 17:49  Atualizado: 25/02/2008 18:01
 Re: Sextina à Liberdade p/ maduro
Parabéns pela composição! Embora tenha um ou dois versos com a métrica imperfeita, segue muito bem a difícil forma inerente à sextina, salvo uma imperfeição no terceto, se não estou em erro. Optou por utilizar sempre a mesma palavra em vez de rimas; é uma hipótese que, neste caso, nada desvaloriza o poema, pois não provoca nenhuma dissonância.
Quanto ao contéudo: uma intervenção social, uma ode à liberdade nas escolas, uma proposta de mudança; também alguma qualidade.
Por fim, creio que o verdadeiro valor do poema esteja na cadência que a forma lhe dá. q14

P.S. - Não pude deixar de reparar na semelhança do primeiro verso e até de algumas rimas com a Sextina II de Camões.