Então agradeço minha existência,
a natureza de animal vivo,
os vértices dos cristais,
os vórtices dos vertedouros
e o sol da manhã evaporando orvalho nos jardins
Na solidão profunda das noites de inverno,
o arrulhar das pombas aquecendo a prole,
preenchendo os silêncios da minha solidão
com flocos de neve nas frinchas do telhado.
Agradeço o ar que alimenta os pulmões,
o sangue vivo circulando nas veias
até o último suspiro cerrando os olhos.
Aqueles sorrisos nas faces das crianças,
os sons cristalinos das vozes infantis;
uma borboleta que esvoaçante
teima em atravessar a vidraça embaçada.
Por tudo isso, agradeço,
e ainda acho que sobrevivo:
- ainda haverá alguém na casa vazia.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.