“ Se os veros sonhos por manhã se geram,
Em breve hás de sentir o que os de Prato,
Quanto mais outros, por teu dano esperam.
Presto que venha, será tarde o fato;
Se o mal tem de ferir, fira apressado:
Mais velho me há de ser mais grave e ingrato.”
A Divina Comédia - Inferno - Canto XXVI
Tudo ao teu redor torna-se negro e desgrenhado, [és]vil criatura,
já partiste para os remos da galé, de fatal destino não te afastas.
Se mais de vez o véu da noite veio a encontrar-te como escultura,
inerte, insone és poltrão que há muito vendeu a honra em hastas.
Tremes ao ouvir as batidelas ali, n’umbral do carvalho já vetusto,
congeles os movimentos com medo grado de destrancar a porta;
graduem-se para ti os dias de luto, expiações do sofrer robusto,
que jamais olvides das preocupações, desvie de ti alegria torta.
Esqueças-te que um dia existiram para ti alguns dias tão claros,
se nas horas de ouro houve alegria, refletiu hilare luz querida,
com traições presenteaste [os amigos], restando sabores amaros.
Almejas reviver os velhos sonhos, talvez, em mais um novo ano
mas não darás a luz a sequer um desejo dessa tu’alma desabrida:
avaro traste que és, que purgue eternamente triste desengano.
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[ Queres viver de novo, no ano novo,
porém, deixas os velhos sonhos,
esqueças tudo o que a felicidade traz...
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enfim...
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esqueças o som cristalino dos sorrisos até.]