Folhas ao vento
Eu mexi na gaveta
onde você guardou a sua vida,
esparramei as suas convicções
por uma estrada chamada desejo,
fiz você conviver com o impreciso,
mas se não estendesse
a minha corda mesmo que bamba
você nunca cruzaria o rio,
eu levei você para além da fronteira,
para um país cujo idioma era o amor,
e nossas línguas falaram o mesmo beijo
talvez numa lembrança atávica
de suspiros e sussurros.
Amores são folhas ao vento.
Mas quem sabe de onde o vento vem?
De onde ele me soprou até você?
Talvez você tenha me aspirado
enquanto ouvia a madrugada
chegar e partir e não trazer seu sono,
ou no meio de uma tarefa rotineira,
enquanto cortava uma cebola
ou cerzia uma meia rasgada
ou as próprias desesperanças,
enquanto olhava o pôr do sol
e tinha uns minutos consigo mesma.
Ventos e folhas vêm e vão
o que me trouxe me levou
nem nos avisou quando seria,
não deixe que a folha se resseque
deixe que a lembrança a regue
a carregue para perto do rio
pois ele continua no mesmo lugar.