Crónicas : 

Pontos de exclamação para os montes de esqueletos secando ao sol

 

Enfim ela veio até meus sonhos e o meu coração quis colocar uma placa de bronze unindo os despojos do derrotado. Para a cabeça, em que pese a profusão das já gizadas madeixas, um só fio amarelado a ser perfilado. Estava envolvente como névoa tênue em noite clara. Cobrindo todos sentimentos aflorados ou não com um véu de tule anestesiante enfeitando a última noite do inverno.
Não teve piedade, porém. Retornou como um dia foi. A distância não a tornou mais suave e nem mais magra a silhueta. Escarneceu das minhas bravatas, da minha raiva diante dos fragmentos de ossos de baleia. Mas, quedava-se como despreocupada, escovava os cabelos deixando mudos os pilares quebrados.
Tentei tomar as rédeas do seu coração enquanto o ciúme cegava os convivas atrapalhando o brinde com sal de frutas efervescente. Todos ali sabiam que quando o sol está forte é preciso preencher as lacunas havidas nos copos de cerveja enfileirados no balcão tosco. Ninguém apareceu para reclamar o premio. Nem mesmo minha irmã gêmea que se infiltrou em mim fritando torresmos num tacho com o fundo coberto de água desprezando o efeito da massa gravitacional das rolhas sobrenadantes.
Através dos olhos frios pude ver uma sala abrigando ébrios desgarrados e tolos brincalhões dando cambalhotas no ar. A tudo observava o gênio do sofá que abandonou a garrafa e também ria dos trejeitos de meu irmão gêmeo. Subitamente, tudo se tornou claro como a verdade ofuscante na luz do dia rasgado. Sorriu apenas enquanto eu implorava. Não me atendeu nenhum fã, nem posou para selfies, afastando-se em movimentos lentos, como que cuidadosamente calculados, deixando para trás pontos de exclamação para os montes de esqueletos secando ao sol.

 
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FilamposKanoziro
 
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