Autoria – Puccini (Giacomo – 1858-1924 – Itália).
Libretto – Giuseppe Adami e Renato Simoni.
Personagens
Princesa Turandot – a cruel Princesa chinesa. Interpretada por uma Soprano.
Imperador Altoum – Imperador chinês e o pai de Turandot. Interpretado por um Tenor.
Calaf – o chamado “príncipe desconhecido”. Filho de Timur, rei tártaro destronado. Interpretado por um Tenor.
Timur – rei tártaro destronado e pai de Calaf. Interpretado por um Baixo.
Liú – jovem e fiel serva de Timur. Interpretada por uma Soprano.
Ping – Grão Chanceler. Interpretado por um Barítono.
Pang – Grande Provedor Real. Interpretado por um Tenor.
Pong – Chefe da Cozinha Real. Interpretado por um Tenor.
Mandarim – Interpretado por um Barítono.
Local e Época
China imperial.
Enredo
A Ópera é inicialmente encenada na réplica de uma praça, dentro da Grande Muralha, na Pequim imperial.
Ali, o povo exerce suas atividades rotineiras até ser convocado para ouvir o pronunciamento de um Mandarim.
Do alto de uma sacada do grande Palácio Imperial, o nobre anuncia, com a devida solenidade, o seguinte édito: “A Princesa Turandot, a Pura, decidiu tornar-se esposa do homem que, além de ter sangue real, for capaz de decifrar os três enigmas que ela propor-lhe... Caso não saiba as respostas, o candidato será executado sumariamente”.
Anuncia, em seguida, que o Príncipe da Pérsia foi o ultimo a tentar e que como fracassou, será executado assim que surgir a Lua.
As novidades causam uma grande excitação na multidão que, aos urros, pede a morte do estrangeiro, enquanto se movimenta afobadamente em todas as direções.
E esse atropelado movimento do povo faz com que um velho homem seja jogado ao solo e pisoteado pelos enlouquecidos passantes. Uma situação de extremo risco para o pobre ancião e da qual ele só escapa graças à ajuda que recebe de uma delicada, mas decidida jovem, que luta bravamente para retirá-lo daquela situação.
A plateia logo reconhece o idoso mendigo como Timur, o destronado soberano tártaro e a jovem como a devotada serva, Liú, que o acompanhou na desdita.
É grande a luta da jovem para salvar o velho Rei, mas o êxito só chega graças à intervenção de um vigoroso e valente jovem, que após certo empenho os livra das pisadas e encontrões dos eufóricos transeuntes.
Passado o perigo, o jovem homem reconhece emocionado que o idoso é, na verdade, o seu próprio pai, de quem fora separado quando os tártaros foram definitivamente vencidos.
E à sua emoção se junta o sentimento de gratidão a Liú, após o pai contar-lhe que ela o acompanha desde a queda e que chega a esmolar apenas para alimentá-lo.
Profundamente agradecido, ele pergunta à serva o motivo de tanta dedicação e a jovem lhe responde que desde o dia em que ele, Príncipe, sorriu-lhe, ela nunca mais pôde esquecê-lo e que, por isso, zela pelo velho Rei, já que o seu apego à família real ultrapassa a reles subserviência.
E enquanto o diálogo entre ambos prossegue, a iluminação começa a ser rebaixada simulando a chegada da noite. Logo em seguida, uma brilhante Lua cenográfica passa a reluzir.
Nesse momento o Príncipe Persa é trazido para que a sua sentença de morte seja executada. A multidão, ao vê-lo tão belo, jovem e apaixonado, é tomada por um sentimento de piedade e troca o antigo rancor e desejo de sangue por uma sincera compaixão que a faz clamar pelo perdão de Turandot.
E tão alto se torna o alarido que a Princesa surge no balcão de seus aposentos. Banhada pela luz prateada, bela e diáfana, Turandot mostra-se como se fosse uma verdadeira deusa e é nessa condição que ela ignora os apelos dos “pobres mortais” e ordena que o carrasco execute o condenado sem mais demora.
Impotente e frustrada, a multidão se dispersa.
Ficam em cena apenas o velho Timur, a serva Liú e o “Príncipe Desconhecido”, que se vê tomado de irresistível paixão pela cruel Princesa. E como se fosse uma avalanche, essa paixão vai crescendo em seu peito de tal modo que ele decide aceitar o desafio proposto, apenas para casar-se com a bela Turandot.
Sua decisão causa espanto e preocupação no pai e na jovem serva, mas ambos não conseguem demovê-lo da arriscada ideia, já que é praticamente impossível decifrar aqueles enigmas.
Pouco depois, metafisicamente, os pretendentes anteriores já executados também o aconselham a não cometer tal sandice; e, idem, três máscaras de aspecto grotesco que simbolizam os três ministros Ping, Pang e Pong.
Todavia, ele se mantém irredutível e quando Liú faz a última tentativa através da ária “Signore ascolta (ouve, Senhor...)” ele se limita a responder com outra ária, “Non piangere Liú (Não chore Liú)”, com a qual tenta consolar a jovem serva, enquanto lhe pede que continue a cuidar do velho pai, se algo de ruim lhe acontecer.
Na sequência, surdo a outros apelos, dirige-se decididamente ao gongo e fazendo-o vibrar grita o nome de Turandot por três vezes, candidatando-se ao desafio.
É o fim do primeiro ato.
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O segundo ato tem como cenário o luxuoso pavilhão do Palácio Imperial, onde uma imponente escada de mármore dá acesso aos aposentos de Turandot.
Logo de início acontece um conhecido elemento musical, quando os três ministros, Ping, Pang e Pong, entoam o célebre Terceto em que comentam ironicamente as atitudes da Princesa em relação aos negócios práticos do Reino.
Enquanto isso, o povo lota as dependências e assiste maravilhado aos suntuosos trajes dos Mandarins que chegam. Pouco depois é o próprio Imperador Altoum que entra acompanhado por oito sábios que trazem, cada qual, três pergaminhos com as respostas aos enigmas que a Princesa proporá ao “Príncipe Desconhecido”.
Na sequência, o Imperador Altoum entoa uma breve e censora ária, deixando clara a sua desaprovação aos métodos utilizados pela filha, classificando aqueles derramamentos de sangue com um indesculpável “capricho de bárbaros”. Por fim, pede que “Príncipe Desconhecido” não alimente aquele ritual selvagem, desistindo do desafio.
Porém, o filho de Timur está firme em sua decisão e repete por três vezes o seu desejo de prosseguir, com a seguinte fórmula: “Filho do Céu, peço a prova”.
O soberano, vendo ser inútil o apelo que fez, retruca: “Estrangeiro ébrio pela morte, seja feita a tua vontade. Cumpra o teu destino!”. O povo, então, explode em saudações.
Nisso os holofotes são dirigidos para o alto da escadaria onde a deslumbrante Turandot surge e se deixa ficar enquanto entoa a ária que se inicia com os seguintes versos: “In questa regia”, com a qual tenta justificar o seu comportamento, alegando tratar-se de uma vingança pelo abuso sofrido por sua ancestral, Lou-U-Ling, por parte de um estrangeiro durante a guerra contra os tártaros.
Logo depois, olhando o “Príncipe Desconhecido” com extrema frieza e desdém, diz: “Estrangeiro, não desafies o Destino, pois são três os enigmas, mas a morte é apenas uma”.
Sem se mostrar abalado, Calaf responde-lhe: “Não! Os enigmas são três, mas só uma é a vida”.
A resposta agrada-a imensamente, mas ela não demonstra a sua satisfação e passa, imediatamente, a colocar as perguntas.
Para o primeiro enigma o “Príncipe Desconhecido” responde “Esperança”; para o segundo, responde “Sangue” e os sábios confirmam nos pergaminhos que ambas estão corretas. Falta, pois, apenas o terceiro e mais difícil.
Confiante e arrogante, Turandot lança a questão: “Gelo que incendeia; fogo que congela. Se o libertas, tornas-te escravo; se o aceitas como escravo torna-te rei”.
Ao contrário das anteriores, essa charada exige mais reflexão do “Príncipe Desconhecido”, mas, por fim, ele responde firmemente: “Turandot”.
E ante a comoção de todos, os sábios confirmam: “Sim! É Turandot”. O desafio foi vencido. A Princesa foi vencida.
Abalada e constrangida, Turandot reluta em se dar por vencida e, horrorizada, implora ao pai para salvá-la do estrangeiro. Contudo, o Soberano é justo e a obriga a honrar o desafio que lançou, dizendo-lhe: “O teu juramento é sagrado”.
Desesperada ela se volta para o vencedor e tenta demovê-lo do casamento, questionando-o se o que ele realmente deseja é ter “uma esposa contrariada, escravizada, triste...”.
O “Príncipe Desconhecido”, astuto, diz que não. Que não a quer daquela maneira; e promete não apenas libertá-la do compromisso, como promete deixar que ela o mate se até a manhã seguinte ela descobrir o seu nome: “Propusestes três enigmas e eu te proponho apenas um. Dize-me o meu nome antes do Sol nascer e terás a minha vida”.
Uma atitude corajosa e que reforça a aura de valente com o Imperador Altoum o vê e que o faz desejar tê-lo como genro e filho.
Assim, antes que um grande Coral entoe o Hino Imperial da China, ele diz: “Queira o Céu que ao primeiro Sol sejas o meu filho”.
É o fim do segundo ato.
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O terceiro ato tem como cenário inicial os amplos jardins do Palácio Imperial. Em um dos lados da cena se avista os aposentos de Turandot e pela baixa iluminação, sabe-se ser noite.
Por decreto da Princesa, todos os súditos, Conselheiros, Militares, Mandarins etc. estão proibidos de dormir, pois devem utilizar o tempo para descobrir o nome do “Príncipe Desconhecido”.
E para dar conhecimento do édito, arautos percorrem todos os lugares e os seus brados “Nessun Dorma (Não durma ninguém)” ecoa em todos os recantos.
E “Nessun Dorma” é, também, o título da célebre ária que o “Príncipe Desconhecido” entoa placidamente, enquanto sofre os mais diversos tipos de assédio e de ameaças para revelar o seu nome, já que todos temem as execuções prometidas no Decreto da Princesa em caso de insucesso.
Noutro ponto do cenário, guardas conduzem presos o velho Timur e a serva Liú, ambos com visíveis marcas de tortura.
Convocado, o “Príncipe Desconhecido” nega conhecê-los, pois isso iria comprometê-los ainda mais, porém o Grão Chanceler Ping, que os viu conversando na noite anterior, sabe que esse desconhecimento é uma mentira e, por isso, chama Turandot e lhe diz que o nome tão desejado está “atrás dessas bocas fechadas, mas nós temos instrumentos capazes de abri-las”, em clara sugestão às terríveis torturas adicionais que mandará praticar contra os pobres indefesos.
Sem qualquer compaixão, Turandot concorda e ordena-lhe que se apresse.
Liú, nesse ínterim, temendo que a fragilidade senil de Timur o leve a revelar, sob tortura, a identidade do filho, diz que apenas ela a conhece realmente.
Então, com a mesma frieza e perversidade de antes, Turandot ordena que as torturas sejam iniciadas. Porém, a jovem escrava não se deixa atemorizar e após entoar a triste ária “Sim, Princesa, ouvi-me”, profetiza: “Mesmo Turandot, feita de gelo, ao calor de tal flama será tocada pelo amor. Antes da Aurora, deprimida e fustigada, Liú fechará os olhos para sempre e o “Príncipe Desconhecido” será, novamente, o conquistador”.
Depois, num átimo, pega o punhal de um dos guardas e se suicida, levando o segredo para o Além.
Nesse momento, o “Príncipe Desconhecido” entra em cena e ao ver a jovem inanimada crítica Turandot asperamente, acusando-a pelo assassinato da pobre serva.
Indignada e do alto de sua petulância, Turandot replica: “Como ousas, estrangeiro? Não sou uma mortal comum, sou Filha do Céu”.
Calaf responde-lhe com a mesma acidez: “Teu espírito pode ser do Céu, mas o teu corpo está junto a mim” e, ato contínuo, envolve-lhe com um ardente abraço e a beija apaixonadamente.
Atônita a princípio, Turandot logo sente, porém, que todo o seu corpo reage àquelas caricias e se entrega sem reservas às delicias da paixão. Se antes a coragem e a inteligência do “Príncipe Desconhecido” já tinham causado-lhe interesse, essa aproximação a convenceu de que ele é, realmente, o seu escolhido.
Comovida, ela não consegue reter as lágrimas e lhe pergunta como ele pôde vencer a outrora invencível Turandot?
Calaf, noutro gesto magnânimo, revela-lhe a sua verdadeira identidade, dizendo que a quer conquistar apenas pelo amor e que, por isso, tendo revelado o seu mistério, deixa-a livre para desposá-lo ou para matá-lo.
Num primeiro momento ela recua horrorizada, pois ele revelou ser um Príncipe dos odiados tártaros, que tantos sofrimentos causaram à sua dinastia; mas essa rejeição acaba sendo vencida pelo amor recém-descoberto.
E ainda sob o impacto desses últimos acontecimentos, leva Calaf ao Palácio e anuncia ao Imperador e à Assembleia que está pronta a revelar a identidade do forasteiro antes da Aurora e que, portanto, estará apta a mandar decapitá-lo, como, aliás, ele mesmo propôs ao desafiá-la.
É um momento de enorme tensão para todos e particularmente para o Imperador que já fazia muitos planos para o genro. Mas, então, trêmula e comovida, Turandot diz: “O nome do “Príncipe Desconhecido” é AMOR!”.
Calaf, surpreso como todos e não menos comovido que ela, abraça-a e ambos trocam juras de amor, enquanto o povo festeja o casamento dos herdeiros imperiais.
E ao som da ária “Nessum Dorma” as cortinas são fechadas. É o fim da Ópera.
Histórico
Puccini faleceu em 29.11.1924, vitima de um câncer, em uma clinica em Bruxelas, para onde fora em busca de tratamento especializado com um famoso médico da época. Expirou sem ter podido concluir essa Ópera, que é uma das mais conceituadas de todos os tempos.
Em 25.04.1926, no grande Teatro Alla Scala de Milão, em uma noite carregada de saudade e de emoção, juntaram-se ao grande público os libretistas Adami e Simoni e, mais, o compositor Franco Alfano, que teve a difícil incumbência de terminar a parte musical da obra.
E o público e eles assistiram à maravilhosa apresentação, que sob a regência do magnífico Toscanini, alcançou o grande objetivo do compositor, tornando o argumento original de Carlo Gozzi, autor da peça teatral homônima, mais vivo, vibrante, dramático, operístico, etc. Uma apresentação digna dos aplausos que recebeu e da admiração que se estendeu pelo tempo.
Puccini faleceu aos sessenta e seis anos de idade, de uma maneira até certo ponto inesperada, pois era um homem robusto, ativo e bem disposto, inclusive após o câncer ter-se manifestado. Afastou-se da lida apenas para tentar a cura em Bélgica, mas infelizmente a sorte lhe foi madrasta.
Contudo, o seu trágico desaparecimento não comprometeu a qualidade excepcional da obra, tanto pelo fato de ele a ter deixado praticamente pronta, quanto pelo talento e bom sendo de Franco Alfano que soube preservar o seu estilo.
Assim, sua derradeira obra foi como um “fecho de ouro” para a sua brilhante carreira de compositor. O último êxito de quem foi, ao lado de Giuseppe Verdi, um dos maiores nomes da Ópera italiana e mundial.
Produção e divulgação de Vera Lucia M. Teragosa.
Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 19/08/2015