A VALSA
Estava preocupado naquela semana. Havia sido convidado para dançar uma valsa em um baile e estava inseguro. Não que não soubesse dançar valsa, pois isto já tinha aprendido; tão pouco se preocupava com a companhia, pois sabia que era a mais agradável moça que já conhecera. O que mais o intrigava era como fazer daquela valsa uma ocasião especial, algo que fosse impar,para que a menina se lembrasse por toda uma vida de uma valsa dançada na adolescência.
Foi à casa da sua bisavó. Os seus avós eram muito compreensivos, imagine a sabedoria da bisavó, era algo assombroso.
A primeira coisa que ela fez foi levá-lo à grande sala de estar e, em seus braços, sem música, explicar-lhe o que era valsa.
A valsa vienense é uma música alegre, romântica, portanto com uma grande carga de sentimento. Ela não é histérica, apenas alegre; ela tem um quê de comedimento, permite uma leve criatividade quanto a passos e movimentos; deve-se dança-la olhando nos olhos daquela (e) com quem se dança, baila-se para alguém. Deve-se segurar o par com firmeza, mas delicadamente, fazer com que os corpos rodopiem e flutue no ar; ter sempre com o outro delicadeza, respeito e admiração, sem ser afetado e nem perder a individualidade; procurar no casal o uno para os outros, guardando para si a agradável sensação de se saber pleno e aceite, olhar com alegria e respeito... dançar valsa.
Eram tantas instruções, tantas sensações que o mais difícil era demonstrá-las.
E com todo o respeito que há entre uma filósofa e um adolescente, percorreram a sala de visitas, que lhe pareceu enorme, pois havia espaço para tantas e variadas evoluções.
O que ele não sabia, é que naquele dia, com aquela senhora, não só estava aprendendo a dançar, como, antes de tudo, a viver.
Trecho do livro "Textos Barrocos"
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