Prosas Poéticas : 

Quando a Primavera Chegar...

 
Tags:  reflexão  
 

A Primavera do passado de todos nós.

Não é um subtítulo, embora soe como um, é a melancolia do passado que beira a eternidade das palavras na escrita reluzente da tela do computador.

Sentada na escrivaninha de meu quarto daqui de Alfama e em silêncio, quebrado apenas pelo som da melodia escolhida por mim, somente para relaxar, escrevo.

Ás vezes quebro o exercício constante de digitação para cantarolar uma estrofe, mas logo desisto, pois convenço-me, que para escrever tenho que me concentrar.
O Fado na minha vida tem a sua hora e só canto quando quero e quando a minha alma pede. Sou assim, sempre fui e serei, por isso a Artista perdeu-se no tempo.

Quando eu era pequena, bem pequena mesmo, pensava na Primavera como uma poesia. As flores nascendo, num ritmo constante, lento, como numa sinfonia sincronizada, o colorido da flora surge encantando.

Os pássaros canores faziam o seu ninho, e tudo parecia ser mágico como num conto de fadas. Como em um conto de fadas sonhava em encontrar o meu príncipe e casar-me com ele na chegada da Primavera, num campo de flores tudo muito verde e com o sol brilhando no firmamento.

Mas hoje, a chegada da Primavera não me anima, para ser realista não faz a menor importância, perdeu-se o encantamento.

As flores nascendo no campo - são crianças abandonadas nas ruas ou sofrendo de fome, agonizando no peito murcho da mãe à procura de alimento.
O colorido da flora que brindava os meus olhos, contrasta com o cinza exprimido das cidades, a fumaça dos carros, caminhões, autocarros, mendigos que perambulam pelas calçadas, pela cidade, diabulam pelas ruas de suas vidas, sem expectativas, sem futuro, vivendo somente para o agora.

Os pássaros que faziam os seus ninhos, são como Sem Terras, Sem Tetos, Sem Esperanças, que constróem as suas casas com o que podem achar pelo caminho, assim como os pássaros que em migalhas edificam o seu ninho. Mas, nesse caso, sem nenhuma poesia.

O conto de fadas passou a pesadelo de uma menina crescida.

O príncipe já não existe mais, talvez tenha morrido num desses transes com a realidade.

Mas de qualquer forma, a Primavera o nascer de todas as estações do ano virá.
Recebê-la de forma injúria ou ignorando-a , não estará melhorando a realidade, ainda temos que sonhar, viver o pouco do que nos restou de belo e puro no mundo.

E.L.

2008/8/02


E.L.

 
Autor
Emilia Lamy
 
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