Não tenho um Anjo só,
de asa estremecida:
como embalam o mar
duas ondas erguidas,
tenho o Anjo do júbilo
e o Anjo da agonia,
aquele de asas trêmulas
e o outro de asas fixas.
Eu sei, quando amanhece,
qual vai reger o meu dia,
se é o de cor de chama
ou se é o de cor de cinza.
E, como a a alga à onda,
dou-me a eles, contrita.
Só uma vez voaram
com as asas unidas:
foi no dia do amor,
dia da Epifania.
E juntaram-se numa
as asas inimigas,
as duas enlaçando
a morte com a vida!
Gabriela Mistral (1889-1957), poetisa chilena e Nobel de Literatura.