Rendo-me… Minha alma é escrava, Penando a cada dia, Da paixão do agradar... Na dolorosa passividade Da existência mortal, E na agressividade Da esperança imortal...
Rendo-me… Sem resistência, Almejando a paz, Ao delírio do prazer, À excitação dos sentidos.
Rendo-me... às necessidades imersas da volúpia, à paciência pachorrenta de nada fazer do nada. Ao medo de te perder, Na flagelação da posse.
Rendo-me... Ao desapontamento Do vazio da distância, Do orgulho ferido por garras De amores traídos Ou não vividos. À escravidão dos passados, Às torturas dos presentes, E à imolação dos futuros.
Rendo-me... Ao poder dos olhares. Dos grilhões dos poemas. Ao fascínio das cores E à tesão das dores. Aos deveres sagrados E imposturas danadas. Aos abismos dos erros E às palmas das certezas.
Rendo-me... Às poucas felicidades E aos muitos desesperos, À falsidade das verdades E à verdade das mentiras. Às praxes das irmandades, E à devassidão da embriaguez...