- Abra o cardápio... Sirva-se! Que te apetece nessa nuvem de algodão?
- A mim, enche-me de sonhos e ainda me sinto leve... Não basta.
- E o que dizes dos ventos carregados de folhas de outono?
- Nostálgico, mas também não satisfaz-me. É passageiro como o tempo. Todavia não pare, vamos, atice-me os outros sentidos.
- Posso sugerir-te essa pétala, colhida em meu próprio jardim.
- Maravilhosa, nunca senti maciez tão profunda. Acho que entendo agora d'onde vem a deliadeza das mulheres. Continue...
- Não menos importante, ofereço-lhe esta estrela do mar.
- Formas exuberantes, mas acho que prefiro a vivência das cousas. Saber que elas existem é mais importante que tocar sua inexistência.
- Pois bem, senhor, que achas de beber esta água cristalina vinda das grutas? Mais viva e existente não conheço.
- Estás certo, meu caro. Nunca houve nem haverá nada vivo que não contenha água. A água é a própria vida que escorre nos dedos, ou no corpo, e evapora para os céus. Não sou digno de tal divindade.
- Ei de agradá-lo, meu senhor. Prove então o néctar do amor.
- Nunca houvi falar em néctar do amor.
- És uma bebida forte e suave, fresca e quente, doce e amarga, que limpa a nossa alma e cega os nossos olhos, que transborda com uma simples gota, que embreaga-nos e apaixona-nos enlouquecidamente, faz-nos plenos e nada em um só instante... prende-nos sem amarrar-nos os pés ou as mãos, é a liberdade de querer ficar, a calmaria e tormenta, força e fraqueza do homem, é o pedaço do outro em nós e nós no outro, é ter cede e nunca saciar.
- Parece-me apetitoso. Sirva-me, sirva-me. Quero enormes porções. Esplendoroso será o efeito desse néctar em mim. Quero sentir-me satisfeito de amor.
Gilquele Gomes de Araújo
Iguatu/Ceará/Brasil
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