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Raiva

 
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Raiva

De tanta raiva, que quebranto
Restou? Que fétidas lágrimas
Se derramam sulcando o rosto?
Por entre a orgia dos destroços
Que emoções são vilmente lançadas
À voragem do tormento do silêncio?

Se a fome da vingança é a chama
Que arde luxuriosa e enganadora
Que oferta restará para os abutres?
Se a demência é desculpa da fuga,
São as gargalhadas apenas adagas
que ferem o vazio liberto do inferno?

Se os sussurros de amor são suaves
Porque vertê-los aos sons viperinos
Carregados do tudo e do nada de nós?
Se a raiva fosse tanta de tanta raiva
Porquê o luto trágico-cómico do ciúme
Alimentado do desespero sentimental?

Se o amor é o mal fatal, quais afectos
São a vacina eficaz para o destruir
No seu todo; tronco, ramos e raiz?
Se esse amor jamais foi existencial
Porque a raiva teima em desacreditar
A vivência quixotesca da sua sombra?

Raiva? Raiva! A incapacidade suprema
Da doação eterna e plena de dois seres
Firmada em suposição e desconfiança.
Essa raiva incontida para deslumbrar
Pressupostas alianças da frustração
Com as hárpias em derrocada iminente.

Jamais se é o que se pretender ser:
O seu ser perfeito, amado e amante
Mesmo errando por defeito de alma.
De tanta raiva, clama-se unilateral
O rasgar do amor em ínfimas porções
Para que, em orgulho, se esteja só!


Poet@ sem Alm@
João Loureiro


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Lisboa, 28/07/2015.
 
Autor
Poeta.sem.Alma
 
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