De tanta raiva, que quebranto Restou? Que fétidas lágrimas Se derramam sulcando o rosto? Por entre a orgia dos destroços Que emoções são vilmente lançadas À voragem do tormento do silêncio?
Se a fome da vingança é a chama Que arde luxuriosa e enganadora Que oferta restará para os abutres? Se a demência é desculpa da fuga, São as gargalhadas apenas adagas que ferem o vazio liberto do inferno?
Se os sussurros de amor são suaves Porque vertê-los aos sons viperinos Carregados do tudo e do nada de nós? Se a raiva fosse tanta de tanta raiva Porquê o luto trágico-cómico do ciúme Alimentado do desespero sentimental?
Se o amor é o mal fatal, quais afectos São a vacina eficaz para o destruir No seu todo; tronco, ramos e raiz? Se esse amor jamais foi existencial Porque a raiva teima em desacreditar A vivência quixotesca da sua sombra?
Raiva? Raiva! A incapacidade suprema Da doação eterna e plena de dois seres Firmada em suposição e desconfiança. Essa raiva incontida para deslumbrar Pressupostas alianças da frustração Com as hárpias em derrocada iminente.
Jamais se é o que se pretender ser: O seu ser perfeito, amado e amante Mesmo errando por defeito de alma. De tanta raiva, clama-se unilateral O rasgar do amor em ínfimas porções Para que, em orgulho, se esteja só!