Era a moça mais bela que já havia visto em todos esses meus 75 anos.
Ela estava na prateleira de poesias, se não engano-me, olhava livros de Mário Quintana. Ela usava um vestido com estampa de girassóis, e eu amo girassóis. Perto dela estava um carrinho de compras, daqueles que colocamos os livros para não carregarmos muitas coisas nas mãos.
Eu olhava para ela, mas ela nunca olhava para mim. Eu tive medo de ir falar com ela. Eu parecia um adolescente no seu primeiro encontro: tremia de nervoso. Não sei porquê. Isto nunca aconteceu antes. Lembrei que ali, perto da biblioteca existia uma floricultura. Fui e comprei um girassol - novida -, revirei minha mochila e por sorte encontrei papel e caneta, rabisquei o meu número de celular e ainda acrescentei: "Se gosta de girassóis, ligue-me."
Dei um jeitinho de prender o papel no girassol, e o coloquei no seu carrinho.
Isso aconteceu a mais ou menos 20 anos.
Ela nunca ligou.
Vai ver não gostava de girassóis.
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