Pardalito vadio, pula aqui, pula ali, tresmalhado, esvoaça num louco percurso, que só ele conhece. Bicando, tem o seu sustento no que se lhe depara, assustado, voa e refugia-se à beira de um telhado. Emite breves e ritmados pios como quem agradece favores - que sem direito - a sorte lhe negara.
Pardalito emplumado de tons matizados de castanho, de olhar vivo, vigia, num eterno movimento circundante, evitando perigos que se avizinham, foge frenético. Pardalito, bonito, toma a minha alma sem tamanho, que o teu voar não impede, e depõe-a agonizante aos pés da minha amada, num último grito patético.
Voa pardalito, voa, procura a minha amada e diz-lhe:- Dos despojos mortais encontrados, algo meu lhe trazes - infima espécie do meu ser, quase nada, pedaço perdido, insublime, sem lugar em nenhum céu
Por este favor, outro favor lhe pedirás: um naco de pão para mitigar a tua fome, e para tua sede uma gota de água. Se disso ela for incapaz, alimenta-te do seu doce coração e bebe, dos seus olhos, uma dorida lágrima de mágoa.