Sentado, de olhar, em redor, vadio, sobre imponente muralha anciã, outrora do burgo nobre guardiã, afundo-me na vastidão - ânimo vazio.
Fosse eu majestosa torre de menagem e abraçaria, cioso, a magnificente paisagem.
Recortada na abóbada de anises celestes, por base em repouso, o solo castanho-doirado, aqui e além, de verde-árvore pontilhado, de negros caminhos e geométricas multicores vestes.
Fosse eu árvore, ao vento da brisa, ondulante, espalharia meus ramos na imensidão distante.
Neste dia solarengo, porém cheio de solidão, procuro enxergar a tua singela e cândida imagem e, esforços infrutíferos, prossigo a estática viagem entre sobressaltos de sístole e diástole do meu coração.
Fosse eu ser dotado de asas e, a outro alto poiso, voaria procurando alimento para alma sôfrega, decerto te avistaria.
Por onde andarás alma irmã, que meus olhos não te enxergam? Que penumbra repentina me oculta, mesmo na luz, o teu rosto? Já não sinto em meu corpo os teus lábios, de mel e mosto, que, beijando num sussurro, os meus sentidos aos teus vergam.
Fosse eu um andarilho, merecedor de castigo, pobre miserável, seria para mim tua frieza, ou desprezo, um gesto breve e afável.
Mas, hoje, nem a tua presença vislumbro, tudo é breu, apenas, cerrando as pálpebras, sou submerso na recordação do teu odor, da tua voz, de todo o teu ser, que, por maldição, logo se esfumam, na realidade de um espaço que morreu.
Fosse eu artista consagrado, eminente escultor, Esculpiria cinzelando, no meu coração, o teu amor.
Ah! Amada minha, que dos teus encantos me restam subtis vapores, que me inebriam, e me lançam em romagem alucinante, qual peregrino, pelo mundo só, num eterno devaneio irreal, errante, ave de arribação, de ninho usurpado, lançando gritos ensurdecedores.
Fosses tu o meu farol-guia, montanha, chão sagrado, jamais me separaria do teu seio, protegido e amado.