Ele não só me diz, mas me grita todos os santos dias: são sete horas e cinco minutos. Nem mais cinco nem menos cinco, eu já disse: s-e-t-e-e-c-i-n-c-o. Porque é coisa, porque tem espírito objetivo, não mente mesmo, é sempre pontual e exato: são sete e cinco. Nunca falhou e nunca falhará: sete e cinco. E se pudesse falar, suponho que ainda diria: "Acorda, seu vagabundo, porque já são sete e cinco." E de tão sarcástico que é ele mesmo, após berrar e vibrar, por-me pra fora da cama num pulo, tudo isso nos exatos sete e cinco minutos da manhã, ainda grava na sua bendita tela, a cada dia rotineiro: "Despertador programado para as sete e cinco. Deseja salvar?". E ponho-me a rir imensamente, pois poderia repetir aqui sete e cinco por quase trezentos e sessenta e cinco vezes, pra talvez, no mínimo, sentirem como é ter esse ser que me perturba sempre ao meu lado exatamente às sete e cinco de cada manhã. Certo dia, criei coragem e contei por algum tempo quantos sete e cinco haviam ali. Foi tão monótono, algo tão sete e cinco de se fazer, que parei por próximo dos cem sete e cinco. Mas você, leitor, poderia me objetar: ora, sua besta, porque não salva logo, em definitivo, o horário e chega desse sofrimento, chega desse sete e cinco repetidamente? E eu te retrucaria, pois, seu pretenso advogadozinho do sete e cinco: ora, eu nunca salvo o horário de pura raiva que sinto! A cada dia coloco o mesmo sete e cinco pra despertar porque não gosto de salvá-lo. É tão manifesto... Ora! Pois quem moveria um músculo sequer para salvar a quem não gosta? E de quem não gosto é tão simples, é tão claro: é daquele ser que me diz sete e cinco. Por isso, se você me disser algum dia na rua, enquanto passeio despreocupadamente, que se chama sete e cinco, ou que há tantas horas atrás foram sete e cinco, saiba já de antemão que fecharei minha cara pra tua figura e, quem sabe, até te odiarei. Mas para fim de conclusão, porque já são sete e quatro e porque já cansei de dizer sete e cinco, antes de salvar no despertador meu odiado companheiro sete e cinco, meus caros amigos que não são "sete e cinquistas", quero mesmo é que alguém me salve dessa rotina!