O espelho que não posso ver
(e que tanto me atemoriza),
anuncia-se.
Em quanta angústia ela se exaure
para que necessite que eu a saiba?
Sou a aranha kafkaniana a ser seguida
por teias inexplicáveis.
Estão iniciados os terrores noturnos
em que os invisíveis, mas sabidos,
olhos paranoicos da moça de cima
esquadrinham a minha solidão insone.
Os passos que pisa e a mobília que arrasta
são duros, secos, aflitos.
São gritos.
Rudes gemidos, sem a elegância
dos líricos sofrimentos.
Quão pouca ciência impede-lhe de ver
que a soma de nossos nadas
proíbem uma mera unidade?
Em qual vazio se debate o seu desespero
em busca de uma luz
que já não tenho?
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.