Poemas -> Desilusão : 

REFÉM

 
Passo serras, matos matam
O céu está muito além
Um rio corre ao lado
O anjo da guarda vem
Abri a porta ao entrar
E saiu somente quem?
Joguei meu anel no mar
Pedi, mas não vi ninguém
Não faço mil maravilhas
Nem para ganhar vintém
Saltei do despenhadeiro
Um anjo disse: amém
Será que ali é o céu
Ou a torre de Belém
Ah, meu Deus se fosse lá
Mas estou muito aquém
Isso é neve ou brisa
Ou o vento do Eden?
É fácil ser marinheiro
Fascinado com o vaivém
Na noite em que me deixaste
Eu corri a mais de cem
Se for para embarcar
Diga que já foi o trem
Naquele lugar sombrio
Rezam o teu requiem
Sou triste, mas ontem mesmo
Sucumbi ao teu desdém
Eu penso que há veneno
Será que o teu lábio tem?
Alisei os teus pentelhos
Gozei no teu vaivém
Não deu pra satisfazer
Te espero em meu harém
Tenho medo de te amar
Que não me ames também
Diz-me: tu me amas?
Ora, ora, nhenhenhém
Queres que eu morra logo?
Quem ama não mata, hem!
Jurei por Deus muitas vezes
Pelo teu mal, pelo bem
Por onde fores eu vou
Ser teu anjo, teu pajem
Se te disser: dou-te um tiro
Aguarda o blém-blém-blém
Passou a noite é dia
Dormia como nenen
Mourejo, confissão e sangue
Transmuta para o zen
Arrancar do homem a pau
E do touro a sedém
Para bandido ou monge
É tudo como alguém
Estar em terra ou no mar
morto ou vivo, um refém.

JOEL DE SÁ
SP, 15/02/08.

 
Autor
Joel Pereira de Sá
 
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