Sinto a tua voz distante num eco profundo
o prazer que me alcança
num olhar de criança
que se perde do mundo.
Sinto o desejo que espreme o silêncio na mão
como a voz que me grita
estridente, maldita
lava de vulcão.
Sinto o tempo precoce da minha ausência
o peso do corpo
que se evade já morto
na derradeira sentença.
Sinto palpitar o peito uma última vez
como enxame de abelhas
que me entra pelas orelhas
e me provoca surdez.
Sinto o teu beijo apertado no último suspiro
na sede que me mata
como cortes de faca
ou dentes de vampiro.
Sinto a pele que se rasga num trágico final
o prazer que se encerra
num punhado de terra
pecado capital.
Elis Bodêgo