Poemas -> Introspecção : 

Fala meu silêncio

 
 
Infiltro-me na noite namorando

teus portões ávidos por

abrirem a alma de par em par

Cheiro os mesmos jardins onde

outrora mergulhámos raízes

perfumadas de jasmim

fruto das palavras semeadas

na agradabilidade dos nossos entes

arquejando ansiosos

pelos abraços deixados em espera

compassivos

quase impacientes…minuciosos


– Se algum dia mais

o dia te trouxer até mim

saindo desvairado completando

esta utopia em horas de saudade

tão harmoniosa

esvaziarei o vento num poema

auspicioso

transformando cada motivo de alegria

na perfeita partilha desta fé

que se movimenta no tempo sequioso


– Somei por fim

todas as palavras que ensaiamos

no dicionário das nossas conivências

Elaborei todo o conforto

que nos alimenta graciosos

Desafiei até o anonimato

na tua ausência

Deplorei falar-te entre

meus silêncios

queria antes

possuir-te tão evidente

castigar aqueles dias quase

involúveis onde no recolhimento

tão religioso

por fim, atrevo-me em ti vertiginoso


- Vou um dia destes regressar

aprisionando-te ao perfil que navega

entre a noite selvagem

e o clamor de luzes que se apagam preciosamente

à tua janela tão paciente e melodiosa

em vagas, vagamente oblíquas

em silêncios e palavras quase

impenetráveis…longínquas

assim morre o dia

e o sol despindo seus raios

adormece cada reflexo

investido de saudade

cada palavra onde fala meu silêncio

repleto de gestos saciados até

nos embebedarmos de vida

unânimes, reconciliados

FC

 
Autor
Frederico
 
Texto
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