Infiltro-me na noite namorando
teus portões ávidos por
abrirem a alma de par em par
Cheiro os mesmos jardins onde
outrora mergulhámos raízes
perfumadas de jasmim
fruto das palavras semeadas
na agradabilidade dos nossos entes
arquejando ansiosos
pelos abraços deixados em espera
compassivos
quase impacientes…minuciosos
– Se algum dia mais
o dia te trouxer até mim
saindo desvairado completando
esta utopia em horas de saudade
tão harmoniosa
esvaziarei o vento num poema
auspicioso
transformando cada motivo de alegria
na perfeita partilha desta fé
que se movimenta no tempo sequioso
– Somei por fim
todas as palavras que ensaiamos
no dicionário das nossas conivências
Elaborei todo o conforto
que nos alimenta graciosos
Desafiei até o anonimato
na tua ausência
Deplorei falar-te entre
meus silêncios
queria antes
possuir-te tão evidente
castigar aqueles dias quase
involúveis onde no recolhimento
tão religioso
por fim, atrevo-me em ti vertiginoso
- Vou um dia destes regressar
aprisionando-te ao perfil que navega
entre a noite selvagem
e o clamor de luzes que se apagam preciosamente
à tua janela tão paciente e melodiosa
em vagas, vagamente oblíquas
em silêncios e palavras quase
impenetráveis…longínquas
assim morre o dia
e o sol despindo seus raios
adormece cada reflexo
investido de saudade
cada palavra onde fala meu silêncio
repleto de gestos saciados até
nos embebedarmos de vida
unânimes, reconciliados
FC