O (im)paciente potencialmente auditado
Não quero tornar o coração uma bandeira, dessas que se agitam ao mais pequeno sopro de encanto.
Mas, quero uma garantia, um selo de qualidade, uma réstia de orgulho à qual com desfaçatez recorrerei num sussurro a ouvidos mais incautos…
Estou sentado no divã e aguardo impacientemente a chegada da especialista das artérias principais que norteiam a nossa vida. Pensamentos rebuscados assolam o meu hemisfério esquerdo, oxalá não se circunscrevam a meras questões retóricas…
Poderá o meu coração ser certificado?
Quantos processos e seus requisitos?
Já o direito, mais apegado à realidade, apenas intui que porventura será mais fácil recomendar o dito coração. Talvez tudo se encaixe no perfeito molde da percepção!
É tempo de ouvir….
A especialista em certificações do coração
Hum! Ora vejamos…
Estudei o seu caso, ponderei em várias certificações…
Mas primeiro pergunto-lhe… será bem isso que quer?
Muito bem! Avançaremos. Sabe que poderá ser um processo moroso, depende muitas vezes da corrente sanguínea (se é que me fiz entender…).
Penso que certificação em segurança e saúde no trabalho não diz muito com o senhor pois o seu coração é lento e preguiçoso, não faria sentido certificá-lo para algo que não faz… com vontade…
Certificação ambiental, como deve entender, está fora de questão… nunca iria conseguir….
Vejamos, então, escolhi uma simples que penso irá agradar-lhe, ou pelo menos agradará com certeza ás mulheres que o queiram provar (se é que me estou a fazer entender…). Terá mais hipóteses de ser provado e até comido exibindo o certificado de segurança alimentar do seu coração.
O (im)paciente praticamente auditado
Se bem entendi, o coração será o catalizador do canibalismo entre géneros que se quer expansivo e incisivo, tal e qual o amor! O amor! Sempre esse ser virtuoso. Por mais gasto que esteja é sempre o produto mais consumido. Não me atrevo a tanto. O coração, como alimento básico certificado, será de facto um bom primeiro estágio. Mas a forte concorrência não me deixará sossegado! Terei de treinar a minha língua para a potenciar como digna porta-voz do bendito… E os gastos? Toda uma equipa de marketing a promover o quão é fresco e saudável o meu coração…Hum, sempre posso recorrer aos amigos! Que lhe parece? Ou talvez à estratégia de cartel? E as fiscalizações? Não é de espantar que um dia destes batam à porta do coração…
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O arranque da certificação
Tenha calma… primeiro ainda vai que ter de enfrentar os pré – requisitos ou códigos de boas práticas, como lhe queiramos chamar, nem todos aguentam. Só depois é que se vão encontrar os perigos que o rondam e os pontos críticos de controlo. Ou seja, vamos primeiro saber se o peito está em condições para receber batimentos fortes do coração, teremos de saber se todos os pontos do corpo que recebem estímulos estão em óptimas condições de sensibilidade para que possam chegar ao coração sem qualquer interferência. O “equipamento” tem de estar em bom funcionamento, em boas condições de higiene para que tudo seja feito em total segurança, deve fazer todos os registos, quando funcionou, quanto tempo, em que posições para depois poder ter prova do que é capaz. O controlo de temperatura também é muito importante, tem de ter em atenção a paixões fortes ou devaneios inesperados… pode a máquina descontrolar (se é que me estou a fazer entender…).
Tendo portanto o coração como alimento seguro, inócuo e isento de qualquer perigo para quem o vai consumir, aí sim podemos certificá-lo. Claro que o melhor marketing sempre foi o boca a boca, a minha sugestão seria para começar com as suas amigas para que elas passassem palavra sobre a segurança do seu coração. Está aqui tudo escrito, direitinho, para que entenda bem como deve proceder… marque uma próxima consulta assim que tiver as boas práticas implementadas e não se esqueça de me trazer todos os registos…
Boa tarde e boa sorte!
Tália & freudnaomorreu