Como éramos presas
vivendo apressadamente
nesta alma dispersa
intermitentes
fugindo ao nosso desconhecido
algemado no recôndito oásis
onde morremos acidentados
um dia qualquer
longânimes…acalentados
– Como éramos sonhadores
em tempos irrigados com
lágrimas transpiradas de alento
tentadoramente racionais
impulsivos
necessitando eu
contemplar-te qual aprendiz
divertido pelas nossas lamentações
apaixonadas
exímias
ancoradas a um mar de palavras
fervendo em confidencias requintadas
– Como éramos
poesia decepcionada
mastigando solidões que o corpo
em surtos febris confecciona
Como éramos
pensamentos súbtis
coniventes
embriagados pela fartura
onde mergulhamos a fome
mais resignada
ansiando só nadar…nadar
até nos perdermos de vista
neste mar incompleto de calmaria
onde nos afogamos depois em ondas de alegria
– Como éramos
solitários
despertando fascinados
nos desejos convergindo
em vícios e delírios
celebrando saudades indignadas
lamentos dispersos
tão cansados,perversos indisciplinados
– Como éramos
inconfessáveis
lambendo nosso cio ocasional
prenhe de latidos vãos
despojados num passado
que jaz ali
em campa rasa
morrendo a noite em convulsões
lascivas num fado quase mortuário
em que nos embrenhamos em brasa
– Como éramos
dementes
enquanto o mundo convergia em
anuários de tempo, sem tempo
e nós sem destinatário, conversos
cobríamos de amor toda a eufonia
profilática onde curamos todo o
sopro de ilusões em constante
infindo silêncio
exalando por fim no rubro alvorecer
nossos pressentimentos madrugadores
jejuando até que agonia, me mate
e descodifique esta poesia
saciando-me de vida
num ato penal de suprema cortesia
FC