Cansei de ver
brigas,rotinas
ódios, esquecimentos
toda uma ditadura levada
numa toada de palavras
onde espelhamos
os retalhos de vida alheios
aos perdões por dizer
aos fracassos por resolver
– Morri quando deixei
de ver
aquele teu sorriso
sempre pontual
cheio de coíncidências fraternas
lavando minha alma já farta
deste tempo onde empobrece
qualquer gomo de esperança
que ainda sugo a esta poesia
atrevida
improvável
que deixo flagrante em cada
verso tão conciliador e inescrutável
– Percorreremos cada miragem
do tempo que nos foge
insubmissos
desfilando súbitos pela vida
que acontece emboscada no ventre
de tanta indigência fatigante
ali
onde por fim nos aventuramos
pujantes
descerrando as pálpebras ao dia
afagando o silêncio andante
em longas horas de reencontros
breves
em tantas eternidades possíveis
infiltradas de afectos omissos
– O ciclo deste presente fecha-se
assim momentâneamente domesticado
passageiro de mim
onde seremos mesmo que inesperadamente
o epicentro da felicidade
assim aconteça
cada verso sangrando de amor
assim morra categórica
uma vida por tantas vidas
agendadas em sacrifício
pelos nossos desencontros fortuitos
velados num breve dia prostrado
na montra deste destino arquitectado
na vulnerabilidade predadora
de uma fé orquestrada em duas almas
que jazem infinitas…revigoradas,
desabrochando cada dia mais conciliadoras
FC