Estou irremediavelmente louco, dizem as gentes em sussurros, e eu acredito, aliás quero crer - contagio-me em sábios conceitos – que a loucura me avassala feroz. A maldade desses olhares separa a loucura evidente da sanidade, que me aprisionam, qual fantoche.
Mas nem esta loucura tampouco me faz despir, gritar, dar murros... Loucura esta que me faz viver, solitário, longe de olhares suspeitos, alheio de tudo, sem qualquer voz, e dizem-na qualquer doença rara, só conhecida de alguma deidade preocupada apenas em deboche.
Ah, esta loucura! Calma, sem fúrias, sem desejos bestiais nem emoções, loucura que se queda tão estática excepto perante alguma imagem, que na mente perpassa injúrias antes sofridas, talvez meras ilusões, que alteram a face sempre apática como que tocada por leve aragem.
Ah, esta loucura! D' ais e lamúrias, de fazer quebrar moles corações, não será antes uma luta linfática, ou, desse louco, mera sacanagem? Loucura de poeta, das suas luxúrias, viciado de amores vãos e de paixões, hoje tão perdido duma vida errática, sem arte, nessa derradeira viagem!
Loucura, minha querida companheira, minha musa de hoje, serena teu ardor! Não me sufoques em folhas imaculadas, virginais que me forças a desflorar! Cada folha tocada será uma rameira, estéril escrevinhar de mão em tremor, jamais serão lidas, menos declamadas... Loucura, deixa teu poeta descansar!