Que vem de Salvador
Para Monte Azul,
Traz a dor
Para morrer no sul.
Devagar vem o monstrengo,
No bojo a fantasia
Do esfaimado nordestino.
A angústia da mãe sem leite,
O choro da desdita criança.
Em sua história,
O macabro destino,
De fazer em ruínas
Sonhos nordestinos.
De fazer sobre o aço,
Do seu caminho,
A vagante sepultura
Da nefasta seca.
Que liberta o homem carcomido;
Para a pobreza extremada,
Em algum rincão farto de febris alegrias.
Em seu balanço funéreo,
Sacode e derrama lágrimas secas
Em retirada.
Sacode a tralha do cego que se vai,
Espalha no chão sujo,
O pouco que, ainda, tem,
Derruba no colo
De alguma alma bendita,
A fome no sono bem-vindo.
Em seus bancos de madeira surrada,
Carrega Pedro, que acredita em seu machado,
No futuro desterro.
Carrega Raimundo,
E seu cão Banzé,
Para onde Deus quiser.
Leva Maria,
A corajosa,
E uma filha,
Para viver a vida de uma qualquer.
Leva no corpo franzino de Betinho,
O choro e a esperança do menino sertanejo.
Desprende na negra fumaça
Da velha locomotiva,
Na tristeza do apito de partida,
Uma saudade incontida
Da terra ressequida,
Que fica a espera de um inverno úmido,
Que traga de volta
À santa caatinga,
Seus filhos destemidos.