Não sou, nunca serei, poeta que cante a beleza de amores, os divinos ou os profanos, benquisto de ninfas e musas. Nem, sequer, serei um asceta, patético meditativo de louvores, de tantos prazeres ufanos, fauno de doações e recusas.
Mas tu me cativas no erro, não serás Clio, deusa da fama, troando os ares de clarins, heróica, ornada de louros. Nem Eterpe, só no desterro, júbilo postado em lama, vestida de flor e flautins, de oboés, pautas e de ouros.
Podes, quiçá, recriar Tália, ousar comédias e festejos, mascarada como pastora, pés ornados de borzeguim. Talvez Melpómene de Itália, inebriando-me desejos, grave, coturnada, cantora, exibindo-me de arlequim.
Ah, sim! Terpsícore, a dançante, regente das vozes corais, portando a cítara e a lira, lançando-me na maldição. Sim! Sim! Érato! Minha Amante! Que doçuras, promessas, ais... Que prazeres de quem delira os mirtos, as rosas, a paixão...
Polímnia, musa dos hinos, contando histórias vãs, de viril guerreiro devasso, sedutor da ninfa de véus. Urânia, de azul cristalino, coroada, tal tuas irmãs, de globo-mundo e compasso, tentando elevar-me aos céus.
Calíope, tua bela voz, de tabuleta e de buril, de ouro e grinaldas, cantando tão nefasto épico poema. São as trombetas que de nós zombam... Eu poeta senil, tu, pobre sereia, encantando sem arte, sem paz. Que dilema!
Fugi, musas, desta descrença, ide para vossas fontes e lagos, libertai-me destes lirismos absurdos, vazios e severos. Vai-te, mulher, que por sentença, renego teus beijos e afagos, que me despenham em abismos dos sonhos vis de desesperos!
O problema é eu (re)acreditar nas musas, não pondo em causa a sua veracidade e tenacidade. Sou um mero escrevinhador de palavras e sonhos. Agradeço-te o comentário, caríssima Poetisa. Abraço. Pedro