O Sol queimava na Taberna
lá dentro ouvia-se a voz do declamador
que com a mão sobre a perna
ia cantando o seu poema de amor.
Falava com voz sentida,
com o olhar perdido na plateia,
Preparando a melhor pose
para a despedida.
Tendo na ideia
a sua merecida apoteose.
O poema durava mais um pouco
e com gestos loucos
o poeta falava dos amores e desamores
com rimas forçadas,
falava do arco-iris e das flores
para a pessoa amada.
Falava do rio e da dor,
mais da força e do Ceu.
Ia cantando o poema de amor
que foi uma história
que um dia viveu,
a mais linda de que tem memória.
Mas no fundo da sala
uma voz de cansaço
não se cala
e pergunta, inundada de bagaço:
"o que é isso?
Só amor? Não sabes escrever sobre mais nada?
Para mim isso é tudo fachada!
Escreve sobre o humor ou actualidade social,
só amor! Isso até já cheira mal!"
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