Foram-se os anos como as nuvens vão
E nunca mais retornarão um dia;
Já não me encantam hoje, como então,
Lendas e doinas*, sons da fantasia
Que à mente de um menino foram graças
Mal compreendidas, cheias de um alarde –
Com tuas sombras hoje em vão me abraças,
Ó hora do mistério, ao fim da tarde.
Para arrancar um som do meu passado,
Para fazer-te, ó alma, ainda vibrar,
A mão em vão a lira tem tocado.
Perdeu-se tudo na alba do lirismo,
Calou-se a voz do outrora sublimado,
O tempo cresce em mim... e eu me abismo!
* Doina: canção popular entranhável e melancólica, a mais viva expressão da alma romena, segundo o poeta Vasile Alecsandri.
Mihai Eminescu, poeta romeno (1850-1889). Tradução: Luciano Maia.
Imagem: Kuvisdiplomi by Mitzuliina (Finland painter)