Crónicas : 

A idade dissipa-te dúvidas e cria-te incertezas

 
Para mim maturidade é o que alcanças, à medida que reduzes as dúvidas e simultaneamente cresce em ti a ideia de que não tens certezas sobre nada.
A poucas horas de alcançar os meus quarenta e cinco anos, tenho várias dúvidas esclarecidas que não significa necessariamente que tenha certezas absolutas sobre o que quer que seja.
Passo a explicar. Não tenho dúvidas que existe o fator sorte na vida, mas não podemos admitir como certo que essa nasça contigo, porque és sempre tu a cada momento que lanças os dados, ou apostas oportuna e sabiamente na mão que tens.
Outra situação que não encerra qualquer dúvida para mim é que a conjuntura e o contexto em que nasces - entenda-se este nas três dimensões, externa, familiar e interna – condiciona igualmente a tua sorte o que não te assegura como certo que dois gémeos idênticos tenham as mesmas oportunidades e vidas asseguradas.
Depois temos os fatores intangíveis normalmente atribuídos a heranças genéticas como a beleza, a inteligência ou o carater, que igualmente não te garante que filhos dos mesmos pais e mães sejam idênticos nessas dimensões.
Além disso, existe sempre o teu livre arbítrio e as opções que tomas e a forma como aproveitas as mesmas características, que até podes partilhar na íntegra com o teu irmão, mas não a personalidade.
Não tenho dúvidas que a beleza exterior abre imensas portas, mas não há qualquer certeza sobre a que vais passar em cada momento com duas abertas em simultâneo à tua frente. Assim se explica que irmãos igualmente inteligentes e belos possam ter por vezes percursos de vida tão díspares.
Do cimo dos meus quarenta e cinco anos eu posso afirmar que não há duvida que o que hoje te parece uma sorte amanha poderás vir a identificar como uma pedrada no charco e o que hoje te pareça ter sido uma rasteira do destino, amanhã pode revelar-se ter sido orientado pelo teu anjo da guarda.
Assim também é certo e seguro que o passar do tempo pode alterar por completo cenários, vontades e atitudes, e a dúvida permanece sobre o porquê das diferentes velocidades a que as horas minutos e segundos passam por ti em diferentes momentos.
Há também outras dúvidas que se dissiparam nos cerca de dezasseis mil quatrocentos e trinta dias que já por mim passaram aos quarenta e cinco anos, é que o tempo não perdoa inalteráveis, e também não é complacente com permanentes. E todos nós evoluímos constante e permanentemente apesar de alguns parecerem não mudarem nunca.
Depois temos como em tudo evoluções negativas e positivas, também não tenho dúvidas acerca disso mas nunca podes ter como certeza que as consequências da tua evolução tenham a mesma orientação – positiva e / ou negativa. Ou seja, se melhorares não te garanto que a tua vida melhore. Ou se evoluíres para pior pessoa também não é certo que tenhas pior sorte.
Assim, o que acumulares de experiência e viver sempre te dissipa dúvidas e te coloca incertezas, mas há uma coisa que a idade traz, aumenta a tua sensibilidade e perspicácia para perceber onde isto vai parar, ou para responder por antecipação às tuas certezas sem esperares que as dúvidas deixem de existir. Porque nunca deixaras de ser um ignorante perante as dúvidas e questões em aberto no Mundo.

Ilia Mar

 
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Ilia Mar
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Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 22/06/2015 12:56  Atualizado: 22/06/2015 13:02
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 Re: A idade dissipa-te dúvidas e cria-te incertezas
Muito interessante esta reflexão. Todavia se a idade pode dar, e dá com certeza experiência de vida, em contrapartida existem coisas que serão sempre comuns a qualquer idade. O conceito de olhar a vida em todas as suas vertentes (incluindo o amor e felicidade) não são comuns a todos os seres viventes. Cada ser é único, cheio de virtudes e defeitos. O comportamento mental de cada um e a sua capacidade de lidar com ela será sempre determinante em todas as fases da vida.

É evidente que as condições socio económicas desde o berço até á fase adulta serão determinantes na formação da personalidade e no abrir de portas em todas as áreas da vida no futuro.

Existe muito a ideia que as coisas boas da vida acabarão por aparecer por obra do acaso. Não, se não formos nós a trabalhar e fazer com que as coisas aconteçam, ninguém o fará por nós.

Aquilo que entendemos por amor e felicidade dão muito trabalho. E nunca são atos contínuos, são quase sempre frutos “dos pequenos nadas”. Mas são esses momentos que temos de saber aproveitar. E nunca deixar para logo o que podemos dizer agora, nem deixar para amanhã o que devemos dizer hoje!