Sua voz vinha com o vento,
falava de coisas passadas
vividas num tempo esquecido,
chegava-me como um lamento
que agora não fazia mais sentido.
Mas o vento continuava ruidoso
por cima do agitar das árvores,
soprava desalento e tristeza
num som tão seco e lamurioso
que mais parecia fervorosa reza.
Olhei o céu e julguei ver a imagem
da mulher cuja voz eu ouvia,
fiquei pensativo, quiçá preocupado
seria sonho, pesadelo ou talvez miragem,
sei que meu coração bateu assustado.
Talvez fosse magia ou quimera sonhada
o que me acontecia, não era normal,
fechei os olhos, tentei me acalmar
porque afinal toda aquela trapalhada
fora causada pelos raios do sol a brilhar.
José Carlos Moutinho