do que eu gostava mesmo
era de ter aquelas certezas
que vejo a passearem-se pelas incertezas de outros
nunca consegui ser definitivo mas creio saber
colocar os pontos finais no sítio certo das frases
para depois respirar de peito aberto
e sentir a força que a cor das rosas me dá
do que eu gostava mesmo
era de ter aquelas certezas que a ignorância refina
as certezas lavadas pela água das doutrinas
pelos pios baptismos sem graça que não lavam
desgraça nenhuma
e dizem-me que por não ter certezas
não há nada em que possa acreditar
e eu que acredito nas dúvidas que tenho
eu que não somo conjecturas para fazer factos
que nem dou por certas as minhas incertezas
duvido das dúvidas que tenho e
como a negação da negação é a certeza afirmada
digo que a culpa de tudo é da palavra
porque sem ela em silêncio eu diria tudo
e não diria nada
do que eu gostava mesmo era de ter um canto
onde pudesse estar com aquilo em que acredito
com as luzes apagadas
e um fio sibilino de perfume caindo