Sinto um nó na garganta, constante,
Contínuo e incessante,
Gigante, tornou-se sufocante,
Acordo ofegante, coração acelerado,
Queria gritar bem alto, mas apenas sai um grito calado…
Gritos mudos que envolvem a minha noite,
Me consomem, dilaceram…
Sinto lágrimas no meu rosto, mas já não as noto sair,
Sinto-me entorpecido sem conseguir reagir,
Soturno, sem senso,
Já não durmo, apenas penso…
Penso em como é grande a dor de pensar,
Reflexões intensas que têm o dom de magoar,
Tento pensar vazio, mas vazio é como me vejo,
E logo me sinto a transportar pelos pensamentos de desejo…
Parece que sonhei, aparenta ter sido noutra vida,
Longínqua, distante, mas impossível de ser esquecida,
O calor tornou-se frio na tua presença distante,
O ar que me reanimava tornou-se sufocante,
Memórias são só memórias, o passado é inexistente,
E este pensamento corrói-me, na melancolia de não o ter presente,
Pensamentos fragmentados, turvos, que me abraçam no escuro,
Tento afastá-los mas eles conhecem os sonhos em que durmo,
Sinto o toque que me fez flutuar,
Mas sentindo-o apenas como reminiscência, faz-me afundar,
É incrível como o próximo e o longínquo se separam tão tenuemente,
Como num fragmento tudo muda, de colorido a cinzento,
O ar não é o mesmo, já não respiro leve,
Sinto um nó na garganta que me persegue,
Me atormenta, omnipresente, embutido no presente,
Pelo futuro que passou a passado, e já não existe neste momento,
Quimeras transfiguraram-se em lembranças,
E o que me fez outrora despertar, adormeceu-me de um modo que não poderia imaginar,
Inopinado, surgiu veloz, cortante e sufocante,
Criando este nó na garganta, que me obscurece cada instante...