Foi-se a vida repartida
em prantos flamejantes de mim
tecido em velados cantos pagãos
reescritos nos melhores
dicionários onde plantámos
nossa língua mãe
regulamentada em cachos de amor
servidos a cada instante
que te saboreias em mim
fluindo tanto rio em nós
– Depois de tantas primaveras
colhidas de contentamento
há um solitário vento desatino
que nos traga assim atractivo
ao sabor do tempo
que foge confundindo-nos
tacteando-nos, ingentes
retumbantes
comprometendo-nos…urgentes
– Restam-nos viver
cada instante faminto
da alma
recompensar a vida com
reveladas páginas de eternidade
Aproximar as horas nocturnas
em matinais auroras arrumadas
nos nossos soltos delírios
mergulhando os instintos selvagens
em silenciosos poentes
que impregnam nossos caminhos
lavrados em poemas que revivem
em cada um de nós tão complacentes
– Desabitei hoje
aquele tímido olhar
que te ofereci à distância
de um fugídio sonho
Entrei na tua gaiola
e libertei-me destas algemas
que cantam meus ecos mudos
Soltei brados de contentamento
quando me enamorei dos teus
inesgotáveis apelos de alegria
correndo alada em plena simetria
para junto dos teus braços
onde me escudo
desnudo, semeio
em euforias incalculáveis de permeio
– Ali depois irá
nascer cada obra de um génio
multiplicar-se o culto de mil actos
de fé
rendidos pela audácia rebelde
onde consagramos tantas
parábolas anciosas por um beijo
tantos dilemas dispersos em
palavras mercenárias que hoje
redijo
para gáudio desta verdade faminta
que planto sossegadamente
na eterna chama que a nós se ateia
consome, requinta e desnorteia
FC