ONZE DE JUNHO
Às vezes,
penso os dias como páginas d'um diário.
Há, decerto, dias que não valem a escrita,
que não marcam o coração e o papel após,
que não registro.
Se não escrevo amiúde n'esse caderno
é porque a vida frustra.
Recuso-me a escrever tão-só pelo branco da folha...
O branco da folha, não raro, é o vazio da vida.
Penso que também diga algo o silêncio que entremeia dois assuntos.
De qualquer forma, escrevo agora
e isso em si já significa alguma coisa.
Hoje compreendi um pouco mais o mundo
e quis compartir isso com quem por acaso
se deparar com a presente página --
Sim, porque meu agora será o agora de quem o ler, se e quando o ler --
É que essa realidade que testemunhamos é, na verdade, uma espécie de somatório de percepções que
construídas em coletivo por constante comunicação.
Sozinhos, temos apenas um fragmento infinitesimal da realidade.
Logo, tendemos a distorcê-la,
Considerando um todo o que é apenas parte.
Estar sozinho, longa e constantemente, leva a um ponto em que o real e o imaginário se confundem.
E é por isso que preciso do olhar do outro:
Para saber se existe mesmo o que estou vendo agora.
É isso.
Betim - 2015
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.