Há muito tempo, numa planície parda, um poeta louco assentou arraiais. E escreveu um conto de um cavaleiro velho, tão senil como ele, lutando por justiça e bem.
Esse cavaleiro viajante De espaços longos, No horizonte variado, Alucinado, sem cura, Montado em pilecas, Sofrendo derrotas, E feridas sangrentas!
Que te mantêm obstinado, Cavaleiro da desgraça? Que tentativas imaginas mais E te suporta a cavalgada louca? Que triste sonho persegues Persistente e maldito?
Ah! Dulcineia! – linda plebeia - Vendedora em feiras desertas e usurárias De e ternura.
Nunca a conheceste, jamais lhe tocastes, nunca a face beijaste, nem o seu corpo esbelto, Como pode ela possuir O teu coração desvalido?
Dedicas-lhe vitórias De que és parco. Sonegas aconchego Aos teus achaques Em lençóis de cetim. Paciente Dulcineia…
E mais outro poeta canta, Nos mesmos sujos campos, a tua azarada canção. Escreve os azares, As desgraças, As derrotas...
Esfarrapa papéis, Em novelas de : que tu sentes por ela, teu coração, sua posse. Rabisca Inacabados e loucos Que ninguém lê, Nem ela, infeliz, Desta demência, Ou desdenha.
Morre cavaleiro! Teus sonhos são breu, Pesadelos e terror, Fugas e novelas. Moinhos selvagens, Árvores sedentas, Terras mareadas, Engolindo vorazes....
Num acto de pateticamente sublime, Morre poeta louco... Morre… longe e bem só…