Há quem tenha a mestria
de enganar a poesia,
e com ela coser meias.
«Na poesia que canta,
Fica-lhe o nó na garganta,
Não a deixa laurear»
E, se alguém lhe bate à porta
Corre logo assim meio torta
Com o dedal a tapar;
A unha que está partida
Dessa terra tão sofrida
Que a mão soube cavar.
Há quem tenha a mestria
De enganar a poesia
Num lenço para se assoar,
Num lenço branco lavado
Que andou por tanto lado,
E tem histórias para contar.
…Lá atrás suas maleitas,
Cheias de rimas desfeitas
Com portadas nas janelas.
Os canteiros estão à porta
Com uma cerca já torta
E, um degrau para se sentar;
Nessas noites que estão quentes
Nos seus dedos tortos e doentes,
Que ainda sabem costurar.
Cristina Pinheiro Moita /Mim/