Emerges da noite escura, de mansinho, flutuando, de corpo velado da aura de luz difusa que não cega; E eu, na escuridão de mim, pressuponho uma visão.
Da aura de luz que te cerca vislumbro teu rosto sereno, os lábios de mil promessas, as mãos elevadas de paz...
Estremeço, inquieto, arfando... É em vão que meus sonhos surgem do infinito do desespero da ilusão e do desencontro, onde todos os caminhos idos e vindos me lançam na solidão.
Meu amor, como anseio teu rosto, Esse teu sorriso - porta entreaberta à voracidade do desejo de beijos e aos sussurros de enamoramento!
Mas não ouso tocar-te... o temor apodera-se de mim como garra que me amordaça os lábios me manieta as mãos e crava, acerada, o pânico no meu peito, e me cerra, lancinante, o olhar.
Amor, sempre ciciaste, ternamente, a partilha deste nosso amor distante que nos fecunda os nossos sentidos e nos exalta as nossas almas gémeas!
E eu te jurei sempre amor eterno! Nossas almas são indivisíveis e imortais mesmo que nossos corpos perecíveis sejam duas naus à deriva, sem leme, almejando portos de abrigo temporais, onde ancorar e zarpar noutras rotas.
Respiramos no mesmo fôlego; somos o "tu em mim, e eu em ti"! E doamos toques e beijos ávidos, como dois cegos que se tacteiam, se se reconhecem pelos aromas, e se sorvem famintos de amor.
Não escuridão, não descerro meu olhar! Não te vou satisfazer essa crueldade e esse esgar gargalhado que esmague, na roda do desespero, este meu sonho!
(Meu amor eterno reentra na noite e eu no breu dos meus terrores!)