Se o coração não estivesse tão ferido,
tão desnutrido e flácido,
se a mente não vagueasse tanto e tão longe,
será que tudo estaria mais plácido,
imbutido com serenidade de monge,
e o equilíbrio se manifestaria,
tanto no que sou como no que tenho sido?
Ivone-pérola, meu amor,
tanta falta me fazes no dia-a-dia,
uma parte de mim sente dor,
e outra rejubila com a tua alegria...
pois sei que a dor resulta de não te ver
mas que o sorriso no teu espírito se mantém
e me ajudas a viver, de ti refém,
sempre na esperança de te reencontrar
se não na terra, pelo menos no além.
E quando sorris a minha mente sente
que estás junto do teu pai amado
e com os animais que te acompanharam
nesta vida terrena tantas vezes inocente.
Meu anjo-da-guarda, protectora dos que ousaram
conhecer-te a fundo, retirar-te o cadeado,
contigo passear e estar frente-a-frente!
Sinto falta dos teus conselhos
e da forma como, sempre honesta,
encaraste a vida de frente, de pé e nunca de joelhos,
e conseguiste o sol no meio da floresta...
Sinto falta da falta que de mim sentias
sempre que ao fim dos dias
me olhavas nos olhos e dizias:
"amo-te tanto que até me dói,
não sei porque me foste destinado,
mas sei que de ti não abro mão
pois abres facilmente o meu cadeado".
Rejubila para sempre no teu esplendor
e corre alegremente nesse prado verde,
sê a tua criança interior,
sê feliz e completa na tua mente!
Poema escrito após o falecimento do grande amor da minha vida, a Ivone