Não chore rua, não chore...
Essa gente não sente
Essa clamura sua
Não tem olhos pra vê
Que tens andado nua
E que a verdade é doida
Toda verde e crua.
Essa gente ausente
Dessa fome que consome
Essa lagrima caída
Essa língua que mente
Tudo em plena avenida.
Não chore rua, não chore...
Essa tramoia escondida
Essa brabura da vida
Tudo em passos apressados
E o olhar desconfiado
De um povo fadado.
Ouça o grito perdido
De um corpo caído
Na esquina um bandido
Espalhando alarido.
Não chore rua, não chore
Ouça o grunhido no lixo
De um corpo jogado
De um filho ensacado
De um povo irado.
Esse feto abortado
Do silêncio privado
Coração congelado
De um pobre coitado.
Não chore rua, não chore
Por promessas inserta
Mandante que não presta
Essa bala perdida
Esse sopro de vida
Essa hora mal certa.
Não entorne a caneca
Esse tempo ainda presta
Veja, olhe a sua reta
Tire o poste da testa.
Antonio Montes