ALMA:
- No enlouquecer da tarde fugidia
quem me dera morrer no dia,
ir além, à bravura dos horizontes,
cortar a vida, atravessar as pontes.
Estou só na escuridão dos dias!
Tão só à Luz da noite.
Só há vazio e nada!
Tudo é turvo em meu redor.
É negra a hora ...
Vou-me embora ...
Vou-me embora ...
CORPO:
- E aonde vais ó Alma minha?!
ALMA:
- Não importa! Não importa!
Vou-me embora! Vou-me embora!
CORPO:
- E porque vais? Porque vais?
É mal da vida? É mal d'amar?
ALMA:
- Qu'importa? Qu'importa?
Vou-me embora! Vou-me embora!
Corpo:
- E onde está a esperança?
E onde está a vida?
ALMA:
- Está morta! Está morta!
Vou-me embora! Vou-me embora!
CORPO:
- E Deus? Que lhe fizeste?!
ALMA:
- Morreu! Morreu!
Vou-me embora! Vou-me embora!
CORPO:
- Nada há que te apegue à vida,
nada mais t'importa!
Então Alma, parte, é hora ...
... vai embora ... vai embora!
ALMA:
- Nada me deu a Vida!
Irei ... sem pena ... sem demora ...
DEUS:
- E eis que a Alma, nessa hora, partiu,
JAZ MORTA, JAZ MORTA ...
Ricardo Maria Louro
Em Évora
Ricardo Maria Louro