No meu acordar-me, todo eu sou fatalismo.
Não durmo: constante consciência
de mim próprio, no sonho com que
me guio, na pressa de acordar. Mas um novo pesadelo,
Que vai do que aqui se finge, no dormir, para o
que sabe bem reconhecer o aceno cénico,
é que vem o prelúdio, onde tudo se torna numa repetição
visceral : quase como que num déjà-vu sistémico.
E a cada noite, acabada de chegar, são as cobertas
com que me tapo, o suplício e o pânico
permanente, onde se me revelam todos os fantasmas,
que são estes semimortos, em completa decomposição.
E o suor nocturno, principio activo, do que se sofre por
antecipação, num movimento rápido e impulsivo de meus olhos,
num sono que é só de temor, é que me deixa adivinhar
uma nova noite, de silêncios a se quebrarem.
Então acendo cigarros atrás de cigarros, tentando
expulsar, pelo fumo, os cadáveres sedentos de mim.
E quando o sossego, é só um cansaço no corpo,
entrego-me à displicência, de um sono, que não quer ter sono.
Por isso, eu digo: de quem as faces, que não mais reconheço?
- Lembro-me vagamente: e foram trinta anos, só de vício -.
Então, o que me falha? Quando de mim for a entregar
o novo homem, que de ora em diante me veste, cabeça aos pés?
Jorge Humberto
11/05/15