MÃE
Este desassossego,
Estas mãos
Estes acordes de guitarra triste
Deambulando pelas pedras da calçada.
Aquela mulher vazia
Que sorria
Aquela outra que de tanto ter sentido
Mariposas loucas,
Já nem sentia
Este frio voraz…
Esta chuva, esta lama!
Essa ilusão que nos consome em pleno inverno
Esse sangue derramado de nós
Essa brutal cegueira!
Este bailado meus senhores,
Este bailado,
Não é poesia!
São as portas do meu quarto de lágrimas.
O olhar de uma criança
Plantado no sorriso dos cravos do jardim,
São o vértice da esperança arrancada à
Raiz do pensamento.
E, aquela mulher que ainda sorria…
E as portas que rangiam – por vezes ouviam-se acordes de guitarra triste enquanto eu crescia…
Éramos semente, fulgor de ternura em planície infinita,
Talvez miseráveis,
Talvez deuses em pleno apogeu e harmonia.
Não, meus caros senhores
Deste bailado nada podeis saber!
Não é um Tratado!
Não se compra, não se vende.
Nem sequer é poesia,
Fantasia, ou ousadia!
Era somente aquela mulher que ainda sorria.
Eu oferecia-lhe uma flor pela manhã
A caminho da escola
Numa das minhas primeiras agonias – essa sim,
Era a minha fantasia.
© Célia Moura
*A todas as Mães e a todos os filhos, um dia de celebração em Amor.
C.M. *
© Célia Moura, in “Enquanto Sangram As Rosas…”