Quando uma entrevista me chama pelo telefone, acenando-me com cenouras de empregos, asnamente sinto-me como um Gama quase Vasco às portas de um mundo novo.
Só que quando o meu navio da esperança aporta, a maré no porto eleva-se ruidosa.
Do outro lado da muralha, ao verem-me entrar trazendo numa mão um punhado de esperança, noutra a pobreza encobrível e no casaco camuflada, a minha velhice dizem-me que não faço parte das suas descobertas. Que velhos do Restelo já têm por ali às dezenas e não servem para nada, senão para protestarem até as placas dentárias ficarem a baloiçar.
Mas sabem, não é a idade que não perdoa, é a sociedade que tudo nos outros destoa, lançando naus de esquecimento contra os nossos navios ainda aportados em sentimentos
No afundar deles, vence a vulgaridade do coletivo singular que faz Leões parirem montanhas, assobiando para chamar os ratos que rugem mentiras sem parar, antes de se escaparem pela rotina (borda) fora.
J. P. Madeira