Contos : 

A CAMISOLA DAS NÚPCIAS

 
A CAMISOLA DAS NÚPCIAS
 
(Mini conto surreal)

Sabrina Tompson escolhera a camisola cor de rosa para sua noite de núpcias.
Anos nostálgicos de outrora...
Pérolas, bordados e laços faziam o conjunto da bela relíquia.
A camisola sobreviveu à sua primeira dona.
Parou esquecida uns tempos numa mala baú.
A obra da casa onde viveu (a filha e os netos continuavam ali), estava quase no fim.
Faltava apenas limpar e organizar o sótão.
A poeira tomava conta do lugar...
Ao deparar-se com o baú antigo, a neta de Sabrina disse à mãe:
- Esse baú era de vovó Sabrina... Posso ficar com seu conteúdo, mãe? Deve ter coisas lindas aqui dentro...

- Sim, pode Monique. Faça o que quiser com ele. Mas, limpe muito bem antes de levá-lo para baixo!

- Claro! Não vou levar para o meu quarto, sujo desse jeito!

Depois disso, limparam tudo no sótão, e logo tinha outra aparência.
Lá seria a Oficina de Arte de Monique, para suas criações artesanais.
Naquele espaço tinha muito material que poderia ser reciclado, e que se tornaria outra peça, nas mãos habilidosas daquela moça.

Ao abrir a mala baú, já em seu quarto, Monique ficou extasiada ao olhar a camisola de núpcias da avó.
Era de fato, um belíssimo achado!
Tudo encantava naquela peça de vestuário: Era especial para um momento íntimo, com toda certeza!
Balançou a cabeça em desaprovação ao pensar em sua avó na lua de mel com seu avô...

Resolveu lavá-la com o maior carinho, para não soltar nenhuma daquelas lindas pérolas que ornava a camisola. Depois de seca, colocou-a num expositor e levou novamente para o sótão.
Seria a peça de decoração, mais bonita para sua oficina de Arte!
Como a camisola era cor de rosa, colocou cortinas brancas com um leve tom rosa bebê, e um tapete felpudo, fazendo o conjunto da decoração.

Surtiu efeito: Cada vez que alguém ali entrava, sua primeira visão era para aquela peça.
As criações foram se sucedendo rapidamente, e Monique ganhava bastante dinheiro com seu trabalho.
Um dia ela conheceu um rapaz, namorou, noivou e casou.
Foi embora da casa em que vivera até ali. Levou a camisola consigo.
Mas, ao sair daquela casa onde esteve sempre, a camisola por encanto, amarelou e suas pérolas soltaram. Somente quando Monique abriu a mala baú, dias depois, pode perceber o que havia acontecido.
Sem entender como aquilo aconteceu, sentou-se na cama pensativa.
O marido entrou na suíte do casal, e ao olhar para Monique, não a reconheceu:
Estava velha...
Algumas coisas nunca deveriam sair de seus lugares...


Fátima Abreu
 
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