Cheguei na casa do meu amigo japonês e encontrei o pai dele, no alpendre, limpando com uma flanela uma espada de samurai que mantinha como enfeite na parede da sala. Enquanto meu amigo entrou para pegar... não lembro o quê, fiquei ali com o pai dele que, concentrado na limpeza, apenas respondeu meu "boa tarde", mas mal olhou para mim... Também não quis atrapalhar e fiquei quieto, só observando.
Zeloso ele caprichava! Com cuidado, bem devagar... Com a típica paciência oriental. Dava para notar que ele tinha mesmo um carinho pelo objeto. Fiquei pensando se seria alguma lembrança, ou herança de família. Curioso, guardei a pergunta para mais tarde, para faze-la ao meu amigo. Foi quando entrou em cena um mosquito.
O bicho começou a rodear o velho... sentou na espada... depois na careca dele... no rosto... E o Japa ali! Parecia indiferente, seguindo do mesmo modo... Mas percebi que ele acompanhava o mosquito só com os olhos; ou melhor, com o resto! Ouvi então ele resmungar baixinho, não entendi direito, algo como: "... essa praga... reproduz..." Continuei quieto, pois tive a nítida impressão que não foi para mim. Não era conversa. E o bicho continuava seu incomodo voo quando, de repente...
Foi muito rápido! Só ouvi o barulho da espada cortando o ar e brilho da lâmina que chegou a passar bem perto de mim! E eu, gelado e com os olhos arregalados, escutei ele falar baixinho:
- Pronto!
Só que eu vi mosquito indo embora! Ai não aguentei:
- Ô, "seo" Misaki, não mato não! Escapou!
E ele:
- Matar?! Nããão!!! Só capei.
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