Num momento de agonia,
quando minha alma se debatia
em profundo desalento,
você surgiu - pluma ao vento,
como flutuando suave na brisa,
que as cristas das onda alisa,
dançando para meus olhos,
desviando-me de perigosos abrolhos,
como a mais doce visão a me prover
numa imagem de linda mulher.
E assim dançando na retina,
como sob raio de luz que ilumina,
tudo se desvaneceu de repente,
quando você passou sorridente,
fazendo tudo o mais sorrir
encher-se de graça, luzir
- ate o meu coração
regozijou-se nessa ilusão.
Mas não ficou, não era minha,
era de outro, o próprio amor tinha.
Deu-me atenção e carinho apenas,
a linda mulher de negras melenas,
generosa e desprendida que era,
foi no momento a mais doce quimera.
E depois que se foi, no desenlace,
lágrimas rolaram-me pela face;
já numa saudade fugaz e louca,
os sorrisos fugiram-me da boca;
minha alma voltou a sofre dolente
como inverno que chega de repente.
Continuei minha estrada de dores
- caminho árduo, estéril de flores,
quando na fimbria do horizonte,
luzindo ao longe, depois do monte,
pude ver tênue e formosa silhueta,
- a mesmo dos sonhos do poeta,
linda imagem de mulher indo além,
que fugia rápido e ria, ria também.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.