Prosas Poéticas : 

Céus perdidos

 
 
Quando eu souber

acreditar

que foi esta inspiração

sôfrega

que assim nos uniu

cegamente desafiando

razões ou pareceres

abrigados em tantas

das nossas felizes maluquices

descansarei então finalmente

meus medos

secretamente arrumados na escrivaninha

onde repousam marginais

e inevitáveis

tantos dos nossos deliciosos segredos

alguns talvez até em fase terminal


Quando perder os teus céus

encetarei novamente

o caminho de regresso

ao mesmo enredo fiel

em que depositámos

ilusões rotineiras

sensações passageiras

tempestades de tempo transbordantes

e derradeiras

até que pereça toda a saudade

milimetricamente intemporal e a nós sujeita


Quando na soleira do tempo

me sentar

esperando paciente o dia chegar

reformo de vez

as crenças divagantes

meus esconderijos amadurecidos

no consolo de tantos abraços

fortalecidos na canseira mitigante


Proporei aos céus

perder-me eu

pelos teus corredores de vida elegante

fotografar-te velozmente num zoom

descontraído

onde colecciono teus beijos

indecifráveis e ofegantes


Situar-me feliz

no teu colo retumbante

porque assim sinto

teus castigos dóceis

aflorando minha solidão

inteira

inevitável

mas quem sabe…irrevogável e passageira

FC

 
Autor
Frederico
 
Texto
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